CARTA ABERTA À SECRETARIA MUNICIPAL DE DESENVOLVIMENTO
URBANO
E À CIDADE DE SÃO PAULO.
A audiência pública referente à revisão da Lei de
Parcelamento, Uso e Ocupação do Solo, convocada pela Secretaria Municipal de Desenvolvimento
Urbano e realizada no último dia 14 de janeiro de 2015, foi marcada pela
manifestação de entidades de bairros que se mostraram contrárias à demarcação
de ZEIS.
Nós, profissionais e entidades que abaixo assinamos a
presente manifestação, defendemos a ampliação das ZEIS e SOMOS CONTRA A
SUPRESSÃO DE PERÍMETROS DE ZEIS NA REVISÃO DA LEI DE PARCELAMENTO, USO E
OCUPAÇÃO DO SOLO.
A atual demarcação das ZEIS é fruto de um processo técnico e
político de negociação realizado durante a construção do novo Plano Diretor
Estratégico e representa, sob diversos aspectos, a possibilidade de
concretização do direito à cidade e à moradia de uma parcela da população
sistematicamente excluída do processo de planejamento e produção da cidade. SUPRIMIR
QUALQUER ZEIS JÁ DEMARCADA SIGNIFICA UM RETROCESSO SOCIAL E UMA VIOLAÇÃO A
ESSES DIREITOS E COM ISSO NÃO COMPACTUAREMOS.
Não aceitaremos visões excludentes e segregacionistas que,
por anos a fio, expulsaram e empurraram os mais pobres para as zonas mais
distantes das oportunidades de emprego, educação, saúde e cultura. Não podemos
aceitar o apartheid social! Queremos uma cidade que propicie o encontro e a
diversidade, a igualdade no acesso aos bens e serviços públicos e às
oportunidades.
Nesse sentido, exigir NENHUMA ZEIS A MENOS significa DEMOCRATIZAR
O DIREITO À MORADIA E À CIDADE, ou seja, não pode ser reduzido o volume de ZEIS
já demarcadas nem alterada a sua localização pelos motivos que apresentamos:
- A demarcação de ZEIS, resultado da luta popular, é um dos principais
instrumentos de política fundiária atuais, e será essencial na garantia do acesso
a terra para as famílias de baixa renda nos próximos 15 anos.
- Perímetros de ZEIS localizados em regiões centrais da cidade
são instrumentos fundamentais para efetivação do direito à moradia digna e
combate ao déficit habitacional no município, contribuindo para a permanência
da população de baixa renda no centro (em áreas com infraestrutura urbana
consolidada) e também para a diminuição de deslocamentos diários, aproximando
trabalho e moradia e inibindo o espraiamento da cidade e a ocupação de áreas de
fragilidade ambiental.
- A gravação de perímetros de ZEIS sobre assentamentos
irregulares é uma forma de reconhecimento da sua existência, da necessidade de
intervenção para urbanização e da legitimidade de sua permanência, evitando a
ocorrência de remoções forçadas.
- Vinculado a instrumentos como o IPTU Progressivo e a
políticas de subsídio à construção de novas moradias, o instrumento apresenta
perspectivas positivas de ampliação do direito à cidade e à moradia para grande
parte da população.
Durante as diversas plenárias regionais da revisão da Lei de
Zoneamento, foram encaminhadas, pelos Movimentos Populares e pelas Entidades da
Reforma Urbana, propostas de ampliação das ZEIS em regiões consolidadas da
cidade onde ainda é possível garantir para as famílias de baixa renda o acesso
a moradia. Assim, exigimos que todo o restante do processo de revisão, tanto em
sede do Executivo quanto posteriormente no Legislativo, zele pela MANUTENÇÃO
DOS PERÍMETROS DE ZEIS PREVISTOS NO PLANO DIRETOR APROVADO, oferecendo no
máximo a instituição de novos perímetros, mas sem supressões arbitrárias dessa
conquista popular.
Tendo em vista a diretriz da gestão municipal de conferir o
máximo de transparência a esses processos, aproveitamos para propor que seja
estabelecido um SISTEMA DE MONITORAMENTO DAS ZEIS NA CIDADE. Além de permitir
que a sociedade como um todo monitore a evolução das áreas demarcadas ao longo
do tempo, esse sistema seria extremamente importante para que se possa
acompanhar e garantir a implementação de cada uma das ZEIS, por exemplo, qual a
sua situação atual, quais os projetos previstos para ela, se estão sendo
aplicados outros instrumentos de indução do cumprimento da função social da
propriedade (PEUC, IPTU Progressivo no Tempo), e informações sobre a formação e
andamento dos respectivos Conselhos Gestores, para que se valide a gestão
social sobre as ZEIS.
Por fim, acreditamos ser necessária a AMPLIAÇÃO DO TEMPO DE DIÁLOGO
NESSA ÚLTIMA ETAPA DO EXECUTIVO, tendo em vista que o prazo de apenas um mês –
intercalado pelas festas de fim de ano – é insuficiente para discutir a minuta
ora apresentada, que traz diversas novidades que interferirão
significativamente no futuro da Cidade de São Paulo.
Assinam:
CENTRAL DE MOVIMENTOS POPULARES-CMP - UNIÃO DOS MOVIMENTOS
DE MORADIA DE SÃO PAULO - UMMSP - FRENTE DE LUTA PELA MORADIA – FLM - MOVIMENTO
NACIONAL DE LUTA PELA MORADIA -MNLM - MOVIMENTO DE MORADIA PARA TODOS - MMPT –
MOVIMENTO SEM TETO DO CENTRO – MSTC – UNIFICAÇÃO DAS LUTAS DE CORTIÇOS-ULC - GRUPO
DE ARTICULAÇÃO DE MORADIA PARA O IDOSO DA CAPITAL – GARMIC - MOVIMENTO DE
HABITAÇÃO E AÇÃO SOCIAL – MOHAS – ASSOCIAÇÃO DOS MOVIMENTOS DE MORADIA DA
REGIÃO SUDESTE – MOVIMENTO SEM TERRA LESTE 1- – UNIÃO INDEPENDENTE DA
ZONA SUL – UIZ SUL 1 - MOVIMENTO DE DEFESA DO FAVELADO – MDF -
MOVIMENTO SEM TETO DA ZONA OESTE E NOROESTE - CENTRO GASPAR GARCIA DE
DIREITOS HUMANOS - INSTITUTO PÓLIS – MOVIMENTO DE MORADIA INDEPENDENTE DE
VILA MARIA - ESCRITÓRIO MODELO “DOM PAULO EVARISTO ARNS” (PUC/SP) – NÚCLEO
ESPECIALIZADO DE HABITAÇÃO E URBANISMO DA DEFENSORIA PÚBLICA DO ESTADO DE SÃO
PAULO – INSTITUTO BRASILEIRO DE DIREITO URBANÍSTICO – ASSOCIAÇÃO DOS CICLISTAS
URBANOS DE SÃO PAULO – CICLOCIDADE - LABORATÓRIO ESPAÇO PÚBLICO E DIREITO À
CIDADE (LABCIDADE|FAUUSP).
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