c.c. Secretário Municipal de Desenvolvimento Urbano Miguel Luiz Bucalem; Superintendente de Desenvolvimento da SP Urbanismo Vladir Bartalini; Secretário Municipal de Cultura Carlos Augusto Machado Calil; Diretor do Departamento do Patrimônio Histórico da Secretaria Municipal de Cultura Walter Pires; Presidente da Câmara Técnica III – Parcelamento, Uso e Ocupação do Solo, Complexos Urbanos e Habitação (Cades SVMA) André Luis Gonçalves Pina e Dr. Raul de Godoy (Ministério Público do Estado de São Paulo).
Assunto: Solicitação de inventário atualizado do patrimônio arqueológico, histórico, arquitetônico, urbanístico e fabril no perímetro da Operação Urbana Consorciada Água Branca (com recursos da atual Operação Urbana Água Branca) e no eixo ferroviário da Operação Urbana Consorciada Lapa – Brás.
Em 16/09/2009, o Diário Oficial do Município de São Paulo publicou a relação de tombamento de bens imóveis na Região da Subprefeitura da Lapa (Sub Lapa).
O assunto vem sendo acompanhado de perto pela sociedade civil, desde 2004, quando da elaboração do Plano Regional Estratégico da Lapa (PRE Lapa), no âmbito do Plano Diretor Estratégico de São Paulo (PDE).
Neste momento, quando ocorrem os debates e audiências públicas sobre as Operações Urbanas Consorciadas Água Branca e Lapa-Brás, a sociedade civil retoma sua preocupação em relação ao patrimônio histórico existente no perímetro da Operação Urbana Consorciada Água Branca e no eixo ferroviário da Operação Urbana Consorciada Lapa-Brás.
O Departamento do Patrimônio Histórico da Secretaria Municipal de Cultura (DPH/SMC), na pessoa de seu Diretor (Dr. Walter Pires), tem acompanhado o processo de discussão capitaneado pela sociedade civil ao longo dos últimos anos.
São muitas as pendências no que tange ao patrimônio histórico, arquitetônico, cultural e urbanístico, como por exemplo, recurso em andamento no Conpresp solicitando reconsideração sobre o tombamento parcial da Fábrica Companhia Melhoramentos (Vila Romana – Lapa), encaminhado em 29/09/2009 e reiterado em 10/02/2010 (destinatário: Dr. José Eduardo de Assis Lefèvre) e até o presente momento sem solução.
Nesta oportunidade, gostaríamos de retomar o tema da preservação do patrimônio fabril de nossa cidade e, no caso da região lindeira ao Rio Tietê, que se estende da Lapa ao Brás, também do patrimônio ferroviário (edificações e linhas nos perímetros das operações urbanas em gestação).
A manutenção do patrimônio industrial vem sendo uma preocupação no mundo inteiro e cada vez mais no Brasil e, em função da constituição de redes de especialistas, pesquisadores acadêmicos e cidadãos interessados, temos observado vários exemplos de preservação, pelo poder público, ou de ações nesse sentido.
A fundação do Comitê Brasileiro do TICCIH (The International Committee of the Conservation of the Industrial Heritage), em 2004, é um sinal inequívoco da importância que o tema vem assumindo na atualidade.
A preservação do patrimônio industrial e do patrimônio ferroviário insere-se, cada vez mais, no âmbito da preocupação com a memória histórica, cultural e afetiva das cidades.
Exemplos recentes que podem ser mencionados, dentre outros:
No interior, destacam-se as seguintes cidades:
A cidade de São Paulo e a Lapa histórica registram uma memória do trabalho que, uma vez apagada, não poderá ser recriada.
Perguntamos: o que restou do império de Matarazzo na cidade de São Paulo? Lembramos do triste fim do palacete da Avenida Paulista, demolido entre guerra de liminares.
Apenas a Casa das Caldeiras e uma chaminé: nada mais!
O último resquício era a Fábrica de Biscoitos Petybon, na quadra das ruas Aurélia, Fábia e Tito (Vila Romana – Lapa), demolida para dar lugar a três torres residenciais.
A falta de planejamento urbano e de sensibilidade histórica para com o nosso passado praticamente apagou da Lapa o Conde Matarazzo e o seu significado: vão restar, apenas, o nome da Avenida e a estátua em frente ao Shopping West Plaza.
O que restou do patrimônio desse grupo industrial, importantíssimo para a industrialização brasileira ainda resiste em cidades do interior, tais como Sorocaba e não aqui na nossa cidade de São Paulo.
Setores de atividade que hoje são obsoletos ou desapareceram não deixaram nenhum rastro material na cidade: São Paulo foi, por exemplo, um importante produtor de peças de porcelana e faiança decoradas, entre os anos 1910 e 1940.
Pois não ficou nada de pé para contar a história.
Hoje, essas porcelanas são encontradas apenas em museus ou em casas de família que preservaram as peças ou então em feiras de antiguidades.
A Lapa teve uma fábrica de porcelana: a área onde funcionou, por décadas, a Fábrica de Biscoitos Petybon foi, antes, uma das primeiras fábricas de porcelana, segundo achados de arqueólogos que pesquisaram o local após a demolição da edificação fabril.
A Fábrica de Tecidos e Bordados da Lapa é outro exemplo de patrimônio industrial importante desse período e que não foi preservado.
Outro aspecto importante a destacar é que, segundo especialistas, o acervo do patrimônio industrial não inclui apenas a edificação/fábrica, mas envolve todo um conjunto que está relacionado, como as vilas operárias, as usinas de geração de energia, as pontes, as caixas d’água, reservatórios e estações e linhas ferroviárias.
Ora, a Lapa dispunha de duas linhas férreas: a São Paulo Railway (1899) e a Sorocabana (1958).
Com base no exposto, percebemos a importância de complexos industriais como os da Companhia Vidraria Santa Marina (1896), da Fábrica Companhia Melhoramentos, do imponente páteo de manobras e dos inúmeros galpões das oficinas da São Paulo Railway (1900), do Hospital Sorocabana (vinculado à associação de mesmo nome, inaugurado em 1955).
O inventário de perguntas revela a necessidade do poder público incluir a preocupação com o patrimônio industrial e ferroviário no âmbito das prioridades da administração das cidades.
Lembremos que, quando uma edificação ou espaço perde sua função original, várias outras destinações são possíveis: museus, instalações de cultura, educação, saúde, até mesmo comerciais, porém mantendo originais o desenho, materiais de construção, a arquitetura e o mobiliário.
Há exemplos de destinação e aproveitamento criativo desses espaços, como o SESC Pompéia (era uma antiga fábrica de tambores, e depois, de geladeiras), o SESC Belenzinho, o Museu do Imigrante, no Brás e o Moinho Santo Antonio, na Móoca; no Rio de Janeiro, uma fábrica têxtil
Além disso, há ainda a opção, mais ousada, nem por isso impossível, de converter a instalação fabril ainda em atividade em uma espécie de “museu vivo”, tornando-a parte de um circuito de visitação turística: tal já acontece em Joinville (SC), onde uma fábrica – Tubos e Conexões Tigre – faz parte do roteiro.
O turismo industrial, aliás, já existe como realidade quanto como projeto no Estado de São Paulo.
No primeiro caso, há o Engenho dos Erasmos, entre Santos e São Vicente: considerada a edificação industrial mais antiga do Brasil, fundada por Martim Afonso de Sousa em 1534.
No segundo caso, há o projeto (com o apoio da Cosipa e Usiminas), de restauro da primeira siderúrgica brasileira, a Fábrica Ipanema, fundada por D. João VI em 1810 na região rural de Sorocaba.
Temos o privilégio de ter, no bairro da Lapa, o que há de melhor em termos de popularização da ciência e tecnologia, como é o caso da Estação Ciência, da Universidade de São Paulo, instalada em local onde funcionou, no passado, uma indústria têxtil e que recebe cerca de 400 mil visitantes por ano.
Quando analisamos o destino que é dado ao patrimônio industrial em países como a Itália (Milão resgatou suas antigas regiões fabris e se tornou o mais sofisticado canteiro de obras da Europa), Inglaterra, Espanha, Alemanha, França, Canadá e Argentina (apenas para citar alguns exemplos) vemos a importância da discussão desse assunto em nossa cidade.
A destinação inteligente do patrimônio deveria estar atrelada ao planejamento urbano da região e da cidade, aos planos de bairro e ao que se pretende fazer utilizando os instrumentos urbanísticos das Operações Urbanas Consorciadas.
Assim, quando a sociedade civil é informada de que ocorrerão intervenções urbanas no território da Sub Lapa, a exemplo da Operação Urbana Consorciada Água Branca e Operação Urbana Consorciada Lapa-Brás, salta aos olhos a necessidade de que se proceda ao inventário atualizado do patrimônio fabril e ferroviário dessa fração do território de nossa cidade, antes de posta em marcha de qualquer intervenção urbanística na área.
Em 22/09/2010, por ocasião da 127ª. Reunião Ordinária do Conselho de Meio Ambiente e Desenvolvimento Sustentável da Secretaria do Verde e Meio Ambiente – Cades SVMA, quando da apresentação do conteúdo do Estudo de Impacto Ambiental – EIA e das diretrizes para o projeto urbanístico da Operação Urbana Consorciada Água Branca, pela SP Urbanismo (Secretaria Municipal de Desenvolvimento Urbano), destacamos a necessidade de que se procedesse ao inventário atualizado do patrimônio, considerando que os estudos já efetuados restam incompletos ou desatualizados. O Departamento do Patrimônio Histórico – DPH, da Secretaria Municipal de Cultura – SMC, na pessoa de seu Diretor, Dr. Walter Pires, corroborou a posição da sociedade civil.
O tema foi retomado nas reuniões da Câmara Técnica de Parcelamento, Uso e
Ocupação do Solo, Complexos Urbanos e Habitação do Cades SVMA (responsável pela análise do EIA da OUCAB), realizadas em 30/09, 19/10, 09/11 e 23/11/2010.
Isto posto, as entidades da sociedade civil abaixo denominadas e a representação da Região Macro Centro Oeste 1 no Cades SVMA vêm, respeitosamente, solicitar a realização de uma “varredura”/inventário atualizado do patrimônio fabril e ferroviário existente nos perímetros das Operações Urbanas Consorciadas Água Branca e Lapa-Brás.
Considerando que a equipe técnica do DPH/SMC não conta com número suficiente de profissionais e logística para a realização desse trabalho, propomos que parte dos recursos existentes na conta da Operação Urbana Água Branca (em vigência) seja utilizada para a contratação de equipes auxiliares e infraestrutura operacional que, sob a coordenação técnica e operacional do DPH, executem o trabalho proposto.
Atenciosamente
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